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Sem penetração não é “verdadeiro”? 5 mitos sobre o orgasmo feminino
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Sem penetração não é “verdadeiro”? 5 mitos sobre o orgasmo feminino

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Com o passar dos anos, o sexo começa a deixar de ser um tema tabu. No entanto, por ter sido um tema proibido durante tanto tempo, ainda persistem vários mitos sobre o sexo, nomeadamente sobre o orgasmo e o prazer sexual feminino. 

Será verdade que, com a idade, as mulheres deixam de ter orgasmo? Todas as mulheres conseguem ter orgasmos múltiplos? E o orgasmo sem penetração não é o “verdadeiro” orgasmo?

Em declarações ao Viral – e no âmbito do “Dia Mundial da Saúde Sexual” – a sexóloga, psicóloga e investigadora do ISPA – Instituto Universitário Ana Carvalheira e a radioncologista e sexóloga Mafalda Cruz desmontam cinco mitos sobre o orgasmo feminino.

Mito 1: Orgasmo sem penetração não é o “verdadeiro” orgasmo

Para as duas sexólogas consultadas pelo Viral, o mito mais difundido sobre o orgasmo feminino é a ideia de que existem dois tipos de orgasmo: o clitoriano e o vaginal. Contudo, “isto é falso”, pois “existe apenas ‘o’ orgasmo”, mas “muitas formas de o estimular”, esclarece Ana Carvalheira.  

Além disso, é comum pensar-se que “o orgasmo atingido por penetração vaginal é o verdadeiro e o melhor”. Esta ideia errada leva algumas mulheres a ficarem frustradas por só conseguirem “atingir o orgasmo com estimulação clitoriana”, aponta Mafalda Cruz.

Segundo Ana Carvalheira, estas crenças “vêm de Freud, que defendia que as mulheres mais maduras têm orgasmos vaginais e as mulheres mais neuróticas e disfuncionais têm orgasmos clitorianos”.

No entanto, além de não existirem dois tipos de orgasmo – mas, sim, várias formas de atingir o orgasmo – uma forma não é mais válida ou “mais certa” do que a outra.

No prazer feminino, “o ator principal na cena do orgasmo é o clitóris”, frisa a psicóloga. 

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“O clitóris é uma estrutura anatómica, com cerca de 8 a 10 cm”, que está, na sua maioria, “escondida”. Assim sendo, explica Ana Carvalheira, o clitóris “pode ser estimulado de várias formas” e, “como é interno”, “também é estimulado de forma indireta”. 

Seja estimulado “mais por via vaginal (na penetração), pelo sexo oral ou pelo toque externo, é sempre fundamental a estimulação do clitóris para o orgasmo feminino”, clarifica. 

Mito 2: Todas as mulheres conseguem ter orgasmos múltiplos

Mafalda Cruz adianta que já existe, por si só, uma grande pressão para as mulheres atingirem o orgasmo durante o sexo e isso faz com que haja alguma frustração quando tal não acontece

As expectativas perante o desempenho sexual feminino ainda ficam mais elevadas pelo facto de se disseminar a ideia de que “as mulheres são mais competentes sexualmente se tiverem orgasmos múltiplos, ou seja, que esse deve ser o objetivo [da relação sexual]”, acrescenta a médica.

No entanto, sublinha, é preciso perceber que, “na resposta sexual humana, a seguir ao orgasmo vem o período refratário, ou seja, o momento em que nem sequer se gosta do toque, ou nem se consegue ter excitação”. 

No caso dos homens, “esse período refratário é bastante evidente, na medida em que, depois do orgasmo, há um período em que não conseguem voltar a ter ereção”.

“A diferença é que nas mulheres esse período refratário de modo geral é mais curto”, continua. Por isso, esclarece, é que “há esta possibilidade de orgasmos múltiplos”. Ainda assim, a duração do período refratário varia “não só de mulher para mulher, mas também ao longo da vida”. 

No fundo, “há este potencial”, mas “algumas pessoas conseguem, outras não”, conclui.

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Mito 3: Com o avançar da idade, mulheres deixam de conseguir ter orgasmos

Não é verdade que as mulheres deixam de ter orgasmos com o avançar da idade. Aliás, na perspetiva de Ana Carvalheira, “a idade tem uma influência positiva” na sexualidade, porque se “ganha conhecimento do corpo e ganha-se experiência, segurança, confiança sexual e maturidade”. Todos estes fatores poderão ser “favorecedores e facilitadores do orgasmo”, aponta.

Ainda assim, Mafalda Cruz lembra que em determinadas alturas da vida da mulher pode “ser mais difícil atingir o orgasmo”. Por exemplo, “na mulher pós-menopáusica, a lubrificação vaginal diminui, portanto, a excitação sexual pode demorar mais um bocadinho”. 

Mas mesmo nestas situações isso não significa que a mulher nunca mais vai conseguir ter orgasmos. Nestes casos, é necessário “perceber de que forma é que a mulher fica estimulada” e adaptar as relações sexuais.

Mito 4: As duas pessoas do casal devem ter orgasmos simultâneos

A ideia de que, durante uma relação sexual, as duas pessoas têm de ter orgasmos ao mesmo tempo está enraizada na sociedade e nos guiões de filmes e séries. No entanto, “na realidade não é bem assim” e, segundo Mafalda Cruz, é importante “gerir expectativas”.

Por um lado, pode ser “difícil de coordenar, sobretudo em termos físicos, porque a maioria das mulheres tem orgasmos por estimulação clitoriana”, defende a médica. 

Além disso, salienta a psicóloga, é preciso “haver prática”, “conhecimento um do outro” e “sorte” para isto acontecer. 

Para mais, na perspetiva de Ana Carvalheira, essa imposição não faz sentido, porque “a vivência do orgasmo é individual”, ou seja, “naqueles segundos do orgasmo há uma desconexão da outra pessoa, que torna o momento individual”.

Mito 5: Os orgasmos femininos são todos intensos

Na visão das especialistas, é comum acreditar-se que ter um orgasmo é sempre uma sensação incrível. Aliás, frisa Mafalda Cruz, “alguns homens têm a ideia de que, se a mulher não gritou, é porque não teve prazer”. Mas não é assim que funciona.

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Ana Carvalheira refere que para o capítulo “O mapa do prazer feminino” do seu livro “Em Defesa Do Erotismo” pediu “a mais de 10 mulheres, de várias idades, uma descrição da experiência do orgasmo”. 

Confrontada com as respostas, a sexóloga conclui que “todas as experiências são diferentes”, variando não só de pessoa para pessoa, mas até de orgasmo para orgasmo. 

“Às vezes o orgasmo é mais simples, mais discreto, mais tímido, mais curto”, aponta. 

Outras vezes, conclui, “é mais longo, mais exuberante e mais intenso”. No fundo, a experiência vai depender da própria pessoa e “do seu estado físico, emocional e mental”.

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4 Set 2023 - 08:00

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